Revirando rotinas.

domingo, 3 de agosto de 2008

Queridos.

Tem pessoas que são simplesmente muito queridas. Há duas semanas estava hospedando amigos são-borjenses em minha casa. O casal que ficou lá primeiro era extremamente agradável. Os conheço há vários anos, são compadres de meus pais e aqui estavam para fazer exames. No dia da sua chegada fiz janta, uma receita adaptada, com frango e creme de milho. Eles por sua vez me agradavam, iam ao mercado e compravam coisas de meu apreço. Isso sem falar nos “regalos” que me trouxeram da fronteira, uma lingüiça daquelas a moda antiga e um charque, perfeito para um carreteiro. E se tiver feijão com carne de porco, melhor ainda.

Mas é bem de São Borja mesmo. (Já ouvi tanto essa frase)

Bem, essas foram as primeiras visitas. A segunda era uma colega de prefeitura de minha mãe. O filho veio para uma cirurgia, ela queria minha casa como um porto seguro. Um lugar para deixar as malas enquanto acompanhava a recuperação de seu rebento no hospital. Achei muito singela a maneira como ela me agradava. Cada dia que ia lá tomar banho, descansar ou trocar de roupa me deixava um agrado. Um chocolate, um chiclete, uma bala ou mesmo um bilhetinho agradecendo e desejando um bom dia.

Na quinta-feira seu filho sairia do hospital e ela iria direto à rodoviária para voltar a nossa cidade, onde não vou há tempos, diga-se de passagem. Peguei a chave de casa, dei tchau e voltei a trabalhar. À noitinha quando voltei ao lar, vi que ela tinha me deixado umas frutas, uns iogurtes e uma certa quantia em dinheiro. Fiquei sei lá como, pois não a hospedei em casa por dinheiro. Ela precisava, eu quase nunca estou em casa. Em mais de uma semana que ela esteve lá, só a vi no dia de sua chegada, no sábado e na quarta para pegar a chave.

Não precisava ter me deixado dinheiro. Mas a entendi. Ela quis me agradar. Quis me compensar pela energia elétrica e água que gastou nos longos banhos (foi isso que ela disse a minha mãe). Nessas duas semanas tive pessoas queridas hospedadas em minha casa. Às vezes, na correria diária, esquecemos de pequenos gestos, ou simplesmente achamos bobagem adotá-los. Acho que não estamos acostumados com isso. Às vezes é bom ter toda a movimentação que as visitas trouxeram, ainda mais para quem mora sozinho, como eu.

Adoro morar sozinha, mas seguidamente sinto falta de um movimento em casa, de mais alguém para falar enquanto cozinho. De alguém para vir sujar o chão que recém limpei. Até queria um cachorro, mas ele ficaria com quem já que nunca paro em casa?

São os ônus de querer espaço e privacidade, isso sem falar em ser muito chata e implicar e reclamar de tudo.
(publicado em www.claudemirpereira.com.br)

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