Revirando rotinas.

domingo, 2 de setembro de 2007

Perfeito.

A perfeição
(Clarice Lispector)

O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós
omo um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

* Falando em perfeição... pessoas perfeitas devem ser muito chatas. Ou aqueles que a buscam também. Digo isso porque sou uma virginiana de carteirinha, e eu vivia sempre visando quadrados perfeitos, não pisar na linha na calçada. Isso sem falar em combinar meia com blusa de baixo. Eu fazia coisas absurdas.

Quando eu estava no colégio eu queria ser pefeita pois todos me viam coma a menina incapaz de tirar uma nota menor que nove. Incapaz de matar aula. Eu tinha que satisfazer as pessoas. E quando entrei naquela fase onde as meninas querem ser vistas pelos meninos, eu tinha muitos conflitos porque sempre fui a magrela da turma, a Olívia Palito. E sem falar que eu só usava calça jeans e camiseta. Isso acabava comigo. Por essas e muitas outras coisas acontecidas na "aborrecência" (eu detesto este termo, acho de uma falta de sensibilidade enorme) foi que sempre estive em constante pressão. Mas não pressão dos outros. Eu me penitenciava. E não contava para ninguém.

O mais engraçado é que de Olívia Palito, quando morei em Bagé, passei a ser aquela gordinha que ninguém quer dizer que é gorda, mas também não serve nem um pouco para magra. Tentando estar no chamado corpo perfeito, também me incluo nas pessoas que tentam se eximir totalmente de defeitos. Vivo de regime, mas já fui mais chata por isso. Outra coisa. Eu arrumava minhas roupas em categorias, cores. Organizava em montes de cinco peças, começando pelas cores escuras e chegando no branco.

Que loucura. Isso é o que não é tão feio contar. Eu fazia coisas que hoje tenho até vergonha de dizer. Sempre querendo ser perfeita. Hoje já sou mais normal. Hoje eu bebo no mesmo copo dos outros. Leio o jornal depois que as outras pessoas lêem. Vou dormir sem precisar passar o lençol. Não tenho mais pânico quando me entregam a rádio-escuta em Verdana 12. Sério, eu tinha pânico. Pânico de sair na rua eu também tinha. Minha família ia a festas e eu ficava em casa. Tinha medo do que iam pensar de mim. Tinha medo da reprovação.

Como diz o poema, eu tentava advinhar, confusa, e muito, a perfeitção. Eu achava que tudo que fazia iria me fazer uma pessoa perfeita. Com o tempo fui ver que a perfeição não existe. E se existe, os que a detém devem ser pessoas muito chatas. Gosto muito mais de imperfeição. Agora adoro sair de casa com os cabelos desarrumados. Ir na padaria de pijama. Tem dias que nem arrumo a cama. E se quero comer muito, eu como. Tudo bem que no outro dia eu morro de fome, mas como. Ainda restam fragmentos de tempos passados em mim, que aos poucos estou perdendo. Às vezes ainda dou um pulinho na calçada para não pisar na linha.

* E depois a cascuda diz que eu não preciso de psicólogo, psiquiatra, sei lá o que. Sempre falei que queria fazer terapia, mas nunca me deixaram. Mas tudo bem... agora estou mais normal... menos encucada.

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