Revirando rotinas.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Terra vermelha como um coração.

Tem coisas que ninguém tira de nós, não é mesmo? Sabe aquela história de que saímos da vila, mas a vila não sai de dentro de nós? Pois é bem assim mesmo. Essa semana, a trabalho, fui a Itaqui e passei por São Borja. Na hora em que paramos no trevo para fazer foto do São Francisco de Borja eu até ensaiei alguns versos do Hino de São Borja. Festa de São-borjenses que se preze tem que ter o hino. “São Borja vens de longe, de 1682. Do guarani, do jesuíta, do espanhol, e do domínio português, depois“, e por aí vai.

O São Francisco, padroeiro da cidade, é uma estátua em madeira de cedro retirada de matas locais, esculpida pelo irmão Brasanelli. Segundo o que encontrei na internet, ela teria sido esculpida de joelhos para facilitar a movimentação em dias de procissão. Mas lembro de uma história que ouço desde pequena, quando a estátua ainda ficava na Igreja, no centro da cidade.

Diziam que suas pernas teriam sido serradas. Eu acredito mais nessa versão das pernas “cotocas”. É mais dramático, e qual mulher não gosta de um drama na vida. (Aproveitei o ensejo do texto da semana no qual falava do ambiente feminino)

Depois do São Francisco de Borja fomos na ponte, não uma simples ponte, é a Ponte da Integração, ponte internacional ligando Brasil e Argentina. Estrutura de 1.402 metros de comprimento que na época da construção era ponto turístico da cidade. Lembro que ia com a família nos finais de tarde olhar o andamento da obra. Dizem que o olho do dono engorda o negócio. Com tantos olhos, de fato, ficou uma ponte bem vistosa. E não é uma ponte qualquer, é internacional.

Para terminar o passeio por São Borja, fomos até a Praça XV de Novembro, onde existem duas homenagens a Getúlio Vargas. Uma estátua em tamanho natural, naturalmente pequena, como ele era, e um monumento com a carta testamento bem no meio da praça. Dizem que este monumento foi feito para colocar os restos mortais dele. Não sei não. Mas o propósito foi este.

Existem tantas outras coisas que valem a pena ser vistas em São Borja; pena que não deu tempo de mostrar. Tem o cemitério com os túmulos do Getúlio, João Goulart e do Brizola, além do túmulo da Maria do Carmo. Este não fica no cemitério. Ela era uma prostituta conhecida pela comunidade, de bom coração (no bom sentido, óbvio) mas gostava de uma cachacinha. “Dois dedos”, como diria um amigo meu (ai, como queria tê-la conhecido). Morreu durante a Guerra do Paraguai, morta por um de seus amantes. Agora tem fama de santa.

Tantas outras coisas, mas das que mais gosto de falar é do número de sinaleiras, semáforos os sinais, como queiram - a do posto BR, da Prefeitura, do Banco do Brasil, do Itaú, da Fruteira Caxiense, e acho que perto do Texaco tem outra. É cidade pequena, a gente brinca que se piscar o olho na chegada, acabou a cidade, ou que é o fim do mundo, ou que se tem tanta gente de São Borja em Santa Maria, quem ficou lá?, além de outras coisas do tipo.

Mas é bom voltar. Somos como quero-quero que vamos nos aquerenciando nos lugares e com as pessoas. Eu, pelo menos, sou. Até aqui na Boca do Monte já estou mais mansa. Antes era só o vento norte, hoje já tem algumas outras coisas, lugares e pessoas. Com nossa terra é assim também. Não vou muito seguido a São Borja, mas quando vou gosto do pé no chão, da terra vermelha e fofa, e até o calor nem incomoda tanto. Por isso repito, saímos da vila, mas a vila não sai de nós. Um colega disse que eu estava insuportável chegando em São Borja.

Ué, mas as pessoas não defendem tudo que é seu? Eu defendo minha cidade, a Terra dos Presidentes, Capital da Produção, Primeiro dos Sete Povos das Missões, município da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul que recebeu Leonel Brizola, terra tradicionalista e de Garota Verão, cidade do Tarso Genro (sim, o Tarso é de lá), das cinco sinaleiras, da Ponte da Integração, grande produtora de arroz, e que tem 326 anos. Terra da Ronda de São Pedro, dos Angüeras, do Festival da Barranca, do Aparício Silva Rillo e a minha terra.

“Noiva do Rio Uruguai,
Rumo ao futuro vais,
Toda vestida pela flor azul do linho
Toda enfeitada pelo ouro dos trigais.

Minha São Borja, terra vermelha como um coração,
Berço de dois presidentes
Hoje e para sempre a Capital da Produção”

(Aparício Silva Rillo e José Gonzaga Bicca)


(publicado em www.claudemirpereira.com.br)

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