Revirando rotinas.

domingo, 4 de maio de 2008

Feriado.

Era 1988. Fomos para a praia, minha família e mais um casal de primos e a filha deles. Ao todo, seis pessoas. Eu tinha uns quatro anos. Aline uns três. Éramos pequenas, estávamos vendo coisas que nunca tínhamos visto. Eu, pelo menos, nunca tinha ido à praia, nunca havia colocado meus pés na areia e na água salgada. Saímos de São Borja em uma camionete, daquelas que parecem um Fiat 147 cortado, não sei o nome. Miguel, Iara e eu atrás, junto a colchão, malas, comida, até um fogareiro tinha. No decorrer da viagem fomos revezando os lugares e por aí vai. Uma festa.

Até hoje lembro de nosso pequeno grupo em excursão parado na beira de uma estrada ou rua, em um gramado cozinhando um carreteiro (será que eu faria isso hoje?). A grama era bem verdinha. Passeio muito engraçado, chinelos Havaianas com tiras azuis perdidos na retomada do trajeto, visita ao aeroporto em Porto Alegre, muitos bolos no café da manhã dos hotéis que levávamos à praia para comer no lanche da manhã, parque visto da janela do quarto, risadas, ralhadas e presentes.

Mas toda viagem tem sua parte ruim. No começo estava tudo muito bem e bonito. Como Aline e eu crescemos próximas, nos primeiros dias era só festa. Mas aos poucos tudo foi mudando. Minha mãe (privo-me do direito de dizer o apelido dela para não parecer abusada e desrespeitosa) diz que não podíamos mais nos olhar, só brigávamos. Não sei se eu fazia alguma coisa, mas lembro da Aline brava, vermelha que era uma pimenta.

Duas primas que crescerão juntas, brigavam que só vendo. E olha que criança é mais fácil de lidar do que gente adulta. Imagina pessoas totalmente estranhas, vindas de hábitos diferentes, valores desiguais e lugares distintos. Difícil convivência é apelido, às vezes. Muitas vezes as diferenças se sobressaem ao desejo de fazer dar certo. Os risos são substituídos pelos rostos carrancudos, pela ausência de palavras essenciais como obrigada, por favor, com licença.

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Obs:

Este texto estava guardado e resolvi retirá-lo dos arquivos porque tentei escrever outros três, mas não consegui terminar nenhum, ou terminei e nem me dei conta. Sei lá. Não me agradaram, não ficaram como queria e os aposentei. Hoje é feriado e não fiz nada. O nada imperou sobre mim. Nem o texto desta sexta-feira se salvou.

Dia de completo ócio, em que chego cansar de tanto nada que tenho para fazer. Com certeza o dia de outras pessoas aqui por perto deve estar como o meu. Acordar tarde, comer sem pressa, cafezinho saboreado depois do almoço. Nada de correrias e preocupações com a hora de voltar a trabalhar durante a tarde.

Acho que não gosto disso. Em dias normais acordo cedo, vou trabalhar, almoço, à tarde volto à labuta novamente. Chego em casa cansada quase ao escurecer e ainda tenho as obrigações caseiras. Roupas, louça e por aí vai. Nos feriados não faço nada disso, fujo da rotina, mas confesso, fico meio perdida. Não consigo organizar o dia, como não consegui organizar até agora.

Sabe quando o dia parece ter menos horas para tudo que há na agenda? É desses que gosto. Da correria, da agenda rabiscada, dos textos que parece que nunca vou conseguir finalizar. Das cobranças sobre mim mesma. Mais estudo, mais leitura, mais filmes, menos dedicação a quem não se dedica a mim. Mais frutas e saladas e menos porcarias. Será que o feriado será salvo de alguma maneira? Talvez o bilhete de loteria que comprei tenha sido premiado. O sorteio era ontem e ainda não conferi. Mas se o bilhete não salvar, o texto da praia de 88 já salvou.
(publicado em http://www.claudemirpereira.com.br/)

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