Revirando rotinas.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Desejar já é se importar.

Este final de semana fui a Porto Alegre. Havia me inscrito em um concurso cujas provas eram domingo. No sábado, na chegada à cidade, fomos ao shopping. Muito movimento de carros, muitas lojas, algumas boas promoções e muita, mas muita gente. Pessoas de todos os tipos com os mais diversos comportamentos. Sou das que não perdem um detalhe, vi cenas interessantes durante a tarde no shopping.

Vi uma senhora cadeirante que estava tendo um ataque de choro no meio do local, no segundo pavimento. Ela estava com seu marido (não sei se de fato era marido, de papel passado, mas vivendo junto já considero como tal), ele tentava consolá-la, mas ela gritava e chorava. Por um minuto ela parou, olhou para o lado e pareceu se perguntar o que estava fazendo, ou mesmo o que fazia ali e o porquê.

Passando por uma loja de bolsas, uma família vinha: mãe, pai e filho. A mãe olhou na direção das bolsas, fitou o marido, fez um sinal com os olhos e um som com a boca, como se pedisse para comprar um daqueles artigos. O pai/marido despistou-a de forma sensacional. “O quê? Não ouvi. Bah, olha ali que loja legal, estou precisando de tal coisa”, apontando para o lado oposto às bolsas.

Entre tantas pessoas, inúmeras ações e comportamentos normais ou convencionados como normais e os ditos anormais ou estranhos, me pergunto se houve alguém que tivesse me observado. Mais que isso, me questiono se alguém me observou e analisou minhas atitudes e reações.

Vi pessoas em lojas atrás de promoções e reclamando do alto preço de alguns artigos. Teria alguém me visto entrando nas maiores lojas, olhando meio por cima, buscando algo que me enchesse os olhos? Fui ao banheiro, me perdi lá dentro, fiquei em dúvida se levava este ou aquele produto. Será que alguém, além do vendedor, notou isso? Mais que ver e sentir as coisas, o que vale é a capacidade que temos de nos importar. Diariamente vemos milhões de coisas, pessoas indo e vindo, fazendo o mesmo ou coisas diferentes de nós. Mas o que interessa é o quanto nos importamos.

Não presenciei a sequência daquela senhora na cadeira de rodas, tampouco da adoradora de bolsas. Mas a primeira deve ter recebido o carinho do marido e sua preocupação em saber o que acontecia. A segunda foi carinhosamente conduzida pelo seu amante (pessoas que se amam são amantes) até a referida loja, adquiriu a bolsa mais bonita e de maior preço, sem nem pestanejar. Assim, desejo e desejar já é se importar.

E quanto a mim? Quando fui procurar meu casaco no balcão de informações, lá estava ele. Alguém pode ter me visto e, mais que isso, se importou com a perda do acessório, talvez até sem nem saber quem era a dona dele.

(publicado originalmente no www.claudemirpereira.com.br)

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