Faz de conta.
Ela havia limpado a casa, trocado de lugar os móveis do quarto. O vento balançava as roupas no varal, e ela colocou seu melhor traje. Aquele que lhe dava luz, alegria e sensualidade. Aos poucos foi se sentindo triste. As unhas não eram mais vermelhas. O salto foi trocado por um tênis confortável e a blusa decotada por uma camiseta. Branca e simples.
Não iria mais ao teatro ver a peça que tanto gostava. Se fosse, esta seria a terceira vez que veria os mesmos atores, escutaria as mesmas falas e choraria nos mesmos momentos em que chorou das outras vezes. Foi a partir da negativa da saída de casa que começou a prestar atenção na televisão. Bobagens, constatou. Sentou na área em frente a sua casa e viu tanta gente desconhecida passando. Ela só queria ver um rosto, um olhar que a agradasse.
Nem o cachorro fazia companhia. O osso estava mais interessante... e assim foi, até a hora de dormir. Vendo a vida passar. E ninguém agradou. Nenhum rosto, nenhum olhar. "Faz de conta que ela não chorava por dentro" (CL)
1 Comentários:
às vezes ver gente passando, a vida real é o melhor espetáculo, porque faz de nós mesmos o protagonista. Se eu tivesse um lugar pra sentar em frente de casa, também trocaria o teatro, o ficcional, pela realidade das ruas. E choraria por dentro, aliás, como tenho feito ultimamanete, e por fora, quando a dor da saudade aperta e me desconstrói..
bj
Por Anônimo, Às terça-feira, 09 outubro, 2007
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial