Revirando rotinas.

terça-feira, 22 de julho de 2008

No meio do caminho.

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

(Carlos Drummond de Andrade
)

...

Definitivamente, acho que deveria ter sido relações públicas...

...

Definitivamente, hoje não é um bom dia para sair da cama.

sábado, 12 de julho de 2008

Tia, dá uma moedinha?

Ontem, no início da noite, saímos de um bar e fomos a uma padaria onde minha amiga queria comprar algo doce. Na chegada, uma menina de aproximadamente 10 anos nos abordou com um “oi” bem sorridente. Minha amiga resolveu comprar um picolé, que estava dentro de um freezer bem próximo a porta, onde estava a menininha. Ela nos olhou novamente e, vendo a dificuldade da Jeanne em abrir o freezer, ajudou. Nos deu os passos para retirar dali o picolé. “Tia, tem que pedir a chave ali no caixa para abrir o freezer”, disse ela, com uma carinha angelical. Bem mimosa.

Enquanto Jeanne abria o recipiente, a menina perguntou se o picolé de chocolate era bom. Encurtando a história, minha amiga acabou comprando o mesmo picolé que iria comer para a menina, que agradeceu desejando que Deus desse em dobro. Este gesto me chamou atenção, pois deu início a uma conversa sobre dar ou não dar dinheiro a quem pede. Lembramos daqueles que ficam nos sinais pedindo moedinhas. Nunca dou dinheiro para estes, não acredito que estejamos ajudando dando quantias em dinheiro às pessoas.

Tornou-se banal ver essas pessoas nas ruas e calçadas pedindo. Já vi casos de serem até mesmo agressivos diante da negação. Mesmo assim virou parte integrante da paisagem. No sinal, nas esquinas, as cores verde, amarelo e vermelho são mais importantes que aqueles pés descalços nos dias frios. Na galeria, no centro da cidade, mais precisamente no calçadão (o que não é tão preciso, porque tem várias por ali), os meninos já desistiram de cantar. Vai ver cresceram e foram em busca de algo de verdade ou acabaram cansando das pessoas mais preocupadas em não escorregar nos dias chuvosos.

Eles estarem ali pode ser culpa do sistema, dos governos que não estariam fazendo sua parte na geração de renda, na inclusão social, sei lá, vai ver até culpa de “Deus que quis assim”. Azar, não dou dinheiro, pode até ser culpa deles sim, mas eu não preciso contribuir para isso, não quero que também seja minha culpa. A quem pede algo de comer, uma roupa... se tenho, não vejo o menor problema em doar, mas apenas isso. Ah, também faço doação de notinhas no mercado. Cada nota fiscal que recebo no mercado vou direto à caixinha para deixar.

Esta semana fizemos uma pequena entrevista com um artesão da cidade, uma pessoa que conheço desde a época que em que trabalhava na prefeitura, o Kalu. Ele possui vários grupos com os quais realiza trabalhos artesanais, ações que ensinam jovens, crianças, adultos, sempre levando uma alternativa de renda ou mostrando que com inúmeras pessoas já deu certo. Se eu tivesse tempo e articulação para isso, gostaria de destinar uma parte dos meus dias para este tipo de atividade.

Infelizmente, hoje não consigo me dedicar a este propósito, o dinheiro fala mais alto e, conforme conversava hoje ao meio-dia, vivemos disso e para isso. Vivemos bem se temos dinheiro. Para as coisas mais bobas precisamos dele. Por isso vivemos para ele. Dinheiro não traz felicidade, mas ajuda... se ajuda! É por isso que não podemos falar mal de quem pede nas ruas, mas também não podemos dar. O que temos a fazer é criar alternativas.