Revirando rotinas.

sábado, 31 de maio de 2008

Encontros com o Professor: Dados sobre educação e paixão pela profissão

No Encontros com o Professor, o jornalista Ruy Carlos Ostermann conversou com o professor e diretor geral do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti. Na conversa que contou com um público de mais de 300 pessoas, o professor fez um relato das ações do Instituto, entre eles o Mova Brasil, um projeto para promover uma ação alfabetizadora que saia dos bancos escolares, e conforme Gadotti, uma metodologia que não só ensina a escrever, mas também ensina a ser cidadão.

Gadotti também comentou sobre o início do Fórum Mundial de Educação, que teria surgido em 2001 durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, junto a outros fóruns que também começaram a ser realizados. Ele destacou a filosofia de Paulo Freire, um grande pedagogo que deixou um legado ao IPF e aos educadores. “Ele não deixou discípulos como seguidores de idéias, deixou a crença de que é possível mudar o mundo”, comentou.

O professor foi enfático ao dizer que o grande número de salas de aula não significa qualidade de ensino, sendo que esta caiu muito. Em épocas anteriores, tempos passados, quando o número de pessoas que tinham acesso à educação era bem menor, a qualidade de aprendizado era melhor. Mas mesmo com as pessoas freqüentando mais os bancos escolares ainda é grande o número dos que não vão à escola.

Explicando suas afirmações com dados, argumenta que hoje somente 15% de crianças entre zero e quatro anos têm acesso à educação infantil na primeira infância. Na cidade de São Paulo 75 mil crianças estão fora da escola. Estes dados negativos ele atribui ao tratamento destinado às políticas públicas para a educação no país. Segundo parâmetros mundiais, quem não completa nove anos de estudos pode ser considerado analfabeto funcional e, conforme ele, no Brasil apenas 26% da população domina completamente a escrita e a leitura.

Osterman questionou Gadotti quanto às políticas públicas. “Elas não estão sendo adotadas ou não estão sendo adotadas de maneira correta?”. O professor comentou que em um período anterior a dez anos foi criado um problema por se priorizar o ensino fundamental, mas desde a posse no Ministério da Educação, o Ministro Fernando Haddad apresentou uma visão mais sistêmica do processo educativo, com ações que mexem com todos os níveis de ensino, desde a pré-educação até o pós doutorado, por exemplo.

O apresentador do programa também comentou sobre seu espanto com as respostas de Gadotti quando perguntado sobre o prazer de ser professor, apesar das dificuldades. “Como vi uma menina lhe perguntando professor: Como, sem salário, sem estímulos para exercer a profissão, alguém pode querer ser professor?, pergunta. Para Gadotti, professor há 45 anos, o segredo é insistir na “boniteza” da profissão. Em ensinar e aprender quando há busca, beleza e “boniteza”, como define Paulo Freire em seu último livro, Pedagogia da Autonomia.

Mesmo com todas as dificuldades Gadotti não vê o futuro com menos professores. “Eu vejo um futuro talvez com menos médicos em função da descoberta da cura para várias doenças, com menos dentistas, mas não vejo o mundo sem professores. Eu penso que nós professores temos que construir, temos que ver onde está o sentido das coisas, onde está a ‘boniteza’”, frisa. Para ele, a profissão de professor é a que ensina, que dá sentido para as coisas quando as marca como sinais. Ele lembra que o verbo ensinar, deriva do latin, do “signare”, onde este significa colocar dentro, gravar no espírito.

Encontros com o Professor – Tem o formato de um talk show, onde o apresentador Ruy Carlos Ostermann recebe a cada quinze dias um expoente da cultura brasileira para uma conversa informal com a participação do público. Esta edição do Encontros com o Professor é a primeira realizada de forma itinerante e Santa Maria foi a cidade escolhida por estar sediando o Fórum Mundial de Educação.

Texto Daiani Ferrari

(publicado em www.forummundialeducacao.org/santamaria)

* Tá aí... este texto gostei de fazer. Há muito não tenho uma pauta que me desperte tanto interesse. Não sei se foi o assunto, o apresentador, o convidado, o clima... mas tive vontade e, sobretudo, prazer em escrever este texto.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Muito tudo.

Nada mais justo que dar o verdadeiro valor ao que nos traz algum bem. Venho aqui agradecer àquela que me acolheu, que abriu os braços sem sequer conhecer ou avaliar se eu merecia tamanha atenção. Foram tantos os motivos que me fizeram gostar dela, que aos poucos o estranhamento, as ressalvas e as apreensões foram cessando.

O primeiro aparecia sempre quando acordava. O céu azul e o morro da janela eram coisas que faziam bem. Depois veio o Vento Norte, que nem preciso falar o que representa. Os trilhos, a ferrovia, as histórias recentes e as mais longínquas, conhecer pessoas dos mais diversos locais, amigos, amores, horrores. Tudo isso veio, ainda vem e no futuro saberemos como será. No Coração do Rio Grande tem algo pouco visto em outros locais, as pessoas com orgulho da sua terra, do seu chão.

São 150 anos que vêm acompanhados de sucesso e histórias para contar. Curto período que também posso me incluir nestes contos, poemas, peças, crônicas que vão mostrando a cara de cada um. Desde o ceguinho que anunciava a chegada do trem ao viajante que passava e ainda passa. Meu desejo para esta menina de coração grande, do coração do Estado, é vida longa. Mas não uma vida normal. Com muito crescimento. Muito Vento Norte. Muita banda na varanda. Muita gente que vem e vai. Muita incerteza de quem chega e muita saudade de quem sai.

Muito tudo, porque muito para quem merece, nunca é muito.

domingo, 11 de maio de 2008

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Hoje deu saudade dos amigos que estão longe.

sábado, 10 de maio de 2008

Cascuda.

Amanhã é dia das mães mas não vou passar com a Cascuda. Mais um ano. Acredito que mais da metade do que eu seja tenha vindo dela. Iara é uma pessoa séria, num primeiro momento carrancuda. Quando era pequena só o olhar de canto de olho dela já bastava para eu me aquietar.
Teve uma pequena fase em quenos desentendíamos, mas nunca fomos de brigar, tanto que não gosto de ver filhos brigando com mães. Me sinto mal. Acho constrangedor. Depois de muito tempo fui ver que sou exatamente igual a ela na maneira de levar a vida. Sou daqueles que não se preocupa muito se as coisas não vão bem.

Acho que posso contar nos dedos os dias que ela chegou em casa com problemas do trabalho e descontando em nós, e eu sei que ela já teve muitos incômodos na Prefeitura (São Borja). Sou como ela. Se tenho problemas os deixo no seu local de origem. Isso sem falar semelhança física. Tem dias que me acho muito parecida com ela, outros nem tanto.

Foi só quando me vi longe, que passei a me virar sozinha, que notei o quanto éramos parecidas. Até a mania de limpeza herdei dela. Ainda bem que hoje estamos mais desligadas disso. A fruta não cai longe do pé mesmo.

Às vezes me pergunto se quando tiver um filho saberei criá-lo como ela me criou.

Quando era pequena ela me deixava na minha avó para ir trabalhar. Nos dias de chuva me colocava dentro de um saco para que não me molhasse até chegar lá. Eu não tinha carrinho, mas eu tinha uma banheira. Ela me colocava ali dentro. Miguel e ela não tinham condições de comprar um carrinho, esse foi o jeito que eles deram. Minha mãe carregava tijolo para o Miguel quando construímos nossa segunda casa. Lembro como se fosse hoje.

Isso sem falar de tantas outras histórias que hoje parecem engraçadas. Acho que por isso tenho orgulho dela e do Miguel. Sei que no início a vida deles não foi fácil... a de muitas pessoas também não é.

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Precisamos sonhar.

No último fim de semana vi na Zero Hora uma matéria sobre um documentário relatando a vida de Leonel Brizola. Eu o conheci como líder do PDT, iniciado na política por Getúlio Vargas. Ouvia falar nele pelo meu avô. O nome do material, Brizola, Tempos de Luta, não sei o motivo, mas me fez pensar em jovens lutando ou não por seus ideais. Penso na época da ditadura, que não vivi, mas queria ter estado lá, ou pelo menos ter um pouco da bravura na busca por ideais. Ideais coletivos, em prol de algo maior.

Acredito que os jovens de agora, nos quais me incluo, sejam menos políticos, definindo política como as relações sociais. Claro que se for falar em política partidária é notável a alienação e desinteresse dos mais jovens. Esta semana a Justiça Eleitoral contava com filas imensas, era o período para regularização do título eleitoral e coisas afins. Jovens estavam em maior número, pelo que vi. E ali estavam por obrigação.

“Na década de 60, participar do movimento estudantil era, acima de tudo, correr riscos. Risco de perder a vida, perder a esperança, e, especialmente, perder a liberdade. Em uma época onde jovens morriam lutando por seus ideais, a união de estudantes era o caminho encontrado por muitos para dar força a suas idéias e reivindicar uma sociedade mais justa e igualitária”. (fonte www.universia.com.br )

Perder a vida? A esperança? De que adianta estar alheio às coisas que interferem diretamente em nossas vidas com medo de morrer? Aposto que quem participava do movimento estudantil não estava nem pensando nos riscos e nas perdas. Mudar está muito acima disso. Coisas pequenas quando se sabe realmente o que se quer.

Dias atrás fui a um encontro de jovens de um determinado partido político, onde encontrei meia dúzia de gatos pingados, como dizem por aí. Primeiramente achei feio aquele movimento que me foi exposto como um super-ultra-mega encontro, mas depois vi um sentido nisso. O sentido da ideologia deles, dos pensamentos e visões que eles têm, mesmo que poucos. Vantagens que levam sobre mim. Eu fui embora.

Acredito que independente de jovens ou não, nossa sociedade precisa de sonhos. Eu preciso de sonhos. Mas é muito mais fácil ficar sentada na cadeira em frente à televisão vendo o caso Isabella ou sobre o austríaco que manteve a filha prisioneira por anos. Vou sair da agência e seguir para casa sonhar um pouco. De repente sonho com o Brizola e ele me conta histórias.

(publicado em www.claudemirpereira.com.br)

domingo, 4 de maio de 2008

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5.
Bem de mansinho chegou e ficou... revirou e acalmou.
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Feriado.

Era 1988. Fomos para a praia, minha família e mais um casal de primos e a filha deles. Ao todo, seis pessoas. Eu tinha uns quatro anos. Aline uns três. Éramos pequenas, estávamos vendo coisas que nunca tínhamos visto. Eu, pelo menos, nunca tinha ido à praia, nunca havia colocado meus pés na areia e na água salgada. Saímos de São Borja em uma camionete, daquelas que parecem um Fiat 147 cortado, não sei o nome. Miguel, Iara e eu atrás, junto a colchão, malas, comida, até um fogareiro tinha. No decorrer da viagem fomos revezando os lugares e por aí vai. Uma festa.

Até hoje lembro de nosso pequeno grupo em excursão parado na beira de uma estrada ou rua, em um gramado cozinhando um carreteiro (será que eu faria isso hoje?). A grama era bem verdinha. Passeio muito engraçado, chinelos Havaianas com tiras azuis perdidos na retomada do trajeto, visita ao aeroporto em Porto Alegre, muitos bolos no café da manhã dos hotéis que levávamos à praia para comer no lanche da manhã, parque visto da janela do quarto, risadas, ralhadas e presentes.

Mas toda viagem tem sua parte ruim. No começo estava tudo muito bem e bonito. Como Aline e eu crescemos próximas, nos primeiros dias era só festa. Mas aos poucos tudo foi mudando. Minha mãe (privo-me do direito de dizer o apelido dela para não parecer abusada e desrespeitosa) diz que não podíamos mais nos olhar, só brigávamos. Não sei se eu fazia alguma coisa, mas lembro da Aline brava, vermelha que era uma pimenta.

Duas primas que crescerão juntas, brigavam que só vendo. E olha que criança é mais fácil de lidar do que gente adulta. Imagina pessoas totalmente estranhas, vindas de hábitos diferentes, valores desiguais e lugares distintos. Difícil convivência é apelido, às vezes. Muitas vezes as diferenças se sobressaem ao desejo de fazer dar certo. Os risos são substituídos pelos rostos carrancudos, pela ausência de palavras essenciais como obrigada, por favor, com licença.

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Obs:

Este texto estava guardado e resolvi retirá-lo dos arquivos porque tentei escrever outros três, mas não consegui terminar nenhum, ou terminei e nem me dei conta. Sei lá. Não me agradaram, não ficaram como queria e os aposentei. Hoje é feriado e não fiz nada. O nada imperou sobre mim. Nem o texto desta sexta-feira se salvou.

Dia de completo ócio, em que chego cansar de tanto nada que tenho para fazer. Com certeza o dia de outras pessoas aqui por perto deve estar como o meu. Acordar tarde, comer sem pressa, cafezinho saboreado depois do almoço. Nada de correrias e preocupações com a hora de voltar a trabalhar durante a tarde.

Acho que não gosto disso. Em dias normais acordo cedo, vou trabalhar, almoço, à tarde volto à labuta novamente. Chego em casa cansada quase ao escurecer e ainda tenho as obrigações caseiras. Roupas, louça e por aí vai. Nos feriados não faço nada disso, fujo da rotina, mas confesso, fico meio perdida. Não consigo organizar o dia, como não consegui organizar até agora.

Sabe quando o dia parece ter menos horas para tudo que há na agenda? É desses que gosto. Da correria, da agenda rabiscada, dos textos que parece que nunca vou conseguir finalizar. Das cobranças sobre mim mesma. Mais estudo, mais leitura, mais filmes, menos dedicação a quem não se dedica a mim. Mais frutas e saladas e menos porcarias. Será que o feriado será salvo de alguma maneira? Talvez o bilhete de loteria que comprei tenha sido premiado. O sorteio era ontem e ainda não conferi. Mas se o bilhete não salvar, o texto da praia de 88 já salvou.
(publicado em http://www.claudemirpereira.com.br/)