Revirando rotinas.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

50% para cada uma.

Era inverno. Marcia acordou e demorou a sair da cama. Ela queria sentir o dia antes mesmo de vê-lo pela janela. Os últimos tinham sido frios e cinzentos, mas estranhamente aquele era como um dia de verão. Parecia mágica. E foi a certeza do tempo e a satisfação pelas suas características que a fizeram levantar. Deu um pulo, tomou banho e foi aproveitar como se fosse o último ou mesmo o único dia quente em todo o inverno.

Era tudo muito estranho, pois só ela tinha aquela sensação. Todos a viam de roupas curtas, mas não estranhavam. Ela não sentia frio e achava que todos estavam apenas habituados à temperatura do mês de julho e não se sentiam à vontade para colocar braços e pernas de fora. Pensava que as mantas já haviam se tornados acessórios inerentes a seus corpos. Pois ela fez tudo como sempre fazia nas férias de janeiro, quando não havia preocupações com horário de trabalho, contas a pagar, dormir cedo, cobranças profissionais e nem regras de alimentação.

Tomou sol, fez compras, nada de inibições causadas por aspectos climáticos. Comeu sorvete sem nem se importar com a agressão a suas formas. Nada disso a impedia de viver e se deliciar conforme sua vontade. O happy hour de fim de tarde foi aproveitado como nunca. Ela ainda não sabia o motivo de tantas mudanças, mas as aproveitava. Nem quis questionar ninguém sobre isso porque não queria ouvir reclamações, como de costume. Achava que as pessoas complicavam muito a vida.

Ela se preocupava em viver e não apenas em existir, mas às vezes, ela mesma admitia, também se enredava em problemas que só ela via e tornava universais. No final do dia voltou para casa, e como o lar estava vazio, se recolheu ao quarto e foi dormir. Dormiu muito bem, assim como havia passado o período anterior. Foi quando num sobressalto acordou e viu que tu aquilo era um sonho. Que na verdade o dia de verão não passava de um desejo de viver intensamente, e assim o fez. Levantou e aproveitou o dia, mesmo com a friaça que imperava naquele julho.

Passeou, foi ao parque, almoçou em uma cantina renomada da cidade, onde geralmente visitava somente em fins de semana. Convidou várias pessoas para acompanhá-la, mas estas, segundo ela, ao não aceitarem o convite estavam sendo omissas da pior maneira possível, com suas próprias vidas. Foi ao local mesmo assim. O silêncio e solidão foram as maiores recompensas do passeio. Pensou em tantas coisas que estava fazendo errado ou deixando de fazer.

E este dia de frio onde a maioria fez o que tinha que fazer, voltou para casa e apenas esperou o próximo dia para também só fazer o essencial, foram para ela as melhores férias, os melhores momentos de reflexão, de encontro e reencontro. Aquele silêncio e solidão eram apenas aparentes. Na verdade ela cantava, pensava em tantas coisas que havia feito e que ainda iria fazer sem a limitação que as avaliações profundas impõem. Quem muito pensa não faz nada, e daquele dia em diante parou de gastar horas analisando as coisas, colocando pesos na balança e tirando par ou ímpar.

Como ela dizia: “Sempre temos duas opções: as coisas dão certo ou errado. 50% para cada uma”.

(publicado em www.claudemirpereira.com.br)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Cabelo.

Ontem vi como sou boba e ainda me apego a pensamentos provincianos e caretas (nossa... nunca usei esta palavra). Cortei o cabelo, um corte radical, tá bom, nem tanto porque já havia cortado assim. Um corte curto, bem diferente do habitual.

Depois de um tempo me peguei pensando se as pessoas iriram gostar. Como se tivesse que agradar aos outros e não apenas me sentir bem. Parece aquelas famílias antigas que tinham que fazer a filha casar porque havia engravidado do namorado. Mas o casório tinha que ser logo para que as pessoas não ficassem sabendo de tal vergonha.

Nunca fui de me preocupar com os outros, não sei o motivo desta necessidade da aceitação alheia.

Gostei... ficou bem divertido... e parei de ter pensamentos tolos.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Saudade.

Estava com saudade de ler Clarice Lispector.

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada." (Clarice Lispector)

Falando em saudade, esses dias fiquei meio triste. Cascuda me ligou e disse que estava com o Miguel tomando mate na sala e olhando minhas fotos. Ela disse a ele que estava com saudade de mim. Pior que ontem também falei que estava com saudades dela. Desde o Natal não vou para minha casa. Nem conheço a casa nova...

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença". Frase de Clarice novamente.

Acho que tenho que ir para São Borja.

sábado, 14 de junho de 2008

Lindo.

Lendo meu perfil do blog, li sobre gostar de árvores e lembrei de uma rua que vi em Porto Alegre. É uma coisa sem explicação. Ela é toda fechada de tanta árvore, do chão até em cima que não dava para ver nada além das copas. Praticamente todas são habitadas por trepadeiras. Então é tudo verde, desde o tronco até as folhas. E se associar as árvores à luz fica mais lindo ainda. Que pena que eu não tinha uma máquina fotográfica naquele momento. Só descrevendo não dá para ter noção da beleza que é.

A rua era estreita, de paralelepípedo, o que deixava o cenário mais bonito, não sei o motivo. Mas era algo contrastando com a avenida ali ao lado, com os carros passando, o asfalto e o movimento de pessoas. Era algo interiorano, provinciano e acolhedor.

E hoje vi outra coisa que adorei. Estava na aula de inglês ali na Dutra Vila. Olhei pela janela e vi as árvores do Parque Itaimbé. As folhas estavam tão lindas. Como disse ao professor, eram folhas de outono. Secas e amareladas...

Será?

Putz, eu não canso de ser saudosista... tem coisas que nunca canso de ler. Pessoas que nunca esqueço e fotos que nunca deixo de ver. Sabe aquela música que diz "quero o tempo que passou"?

Eu sempre quero o tempo que passou e mais o porvir. Será que vou ter alma e coração para guardar tudo?

U2

Estou assistindo ao DVD "U2 Popmart - Live from Mexico City" pela terceira vez nesta tarde. Acredito que ainda assistirei mais uma 18 vezes neste fim de semana.

Adoro!

Risos.

Ontem fiquei tão feliz em ver uma pessoa que gosto muito sorrindo. Fazia dias que o via com uma cara amarrada, um tom sisudo. Me agrada ver as pessoas sorrindo, conversando, dando risada.

Detesto estar no meio de gente de mau humor, talvez por ser meio raro me ver assim. Tenho vontade de fugir, sair correndo e nunca mais voltar para o ambiente onde tem mau humorados. Sério, nunca gostei disso.

Tem duas coisas que me deixam muito, mas muito irritada e chata, mau humorada: fome e muito sono. Se o sono for um "médio-sono" eu aguento, está tranquilo. Agora, fome. Estar com fome me deixa de péssimo humor, mas como estou sempre comendo, é difícil me ver de mau humor.

Se tem uma coisa me dá muito prazer nesta vida, é comer. Cozinhar para os outros me deixa muito feliz. Adoro cozinhar e mais ainda cozinhar para as pessoas que gosto.

Resumindo, adoro dar risada, estou sempre rindo, como muitos sabem... rindo bem alto. Mas sobretudo, gosto de ver os outros sorrindo, gosto de ver a alegria alheia. Acho que aprendi com o Miguel. Para ele tudo é festa e motivo de risos. Para mim também.

Moto.

Bei, ontem andei de moto. Tenho medo de moto, muito medo mesmo. Mas andei. Agora eu sei o motivo por existirem tanto acidentes evolvendo motocicletas e seus guias. Eles vão se enfiando como podem entre os carros, "costurando" para chegar mais rápido, aproveitando o pouco tamanho e largura do veículo.

* Tenho medo, mas não dá para negar que é legal o vento no rosto. Dá sensação de liberdade.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

É como Natal.

Uma data criada pelo capitalismo com o objetivo de vender mais e mais. Assim que defino o Dia dos Namorados. Sim, foi isso que eu disse para o meu namorado no dia em que o conheci. Pasmem, mas foi exatamente isso. Fui de uma total insensibilidade. Parecia que fazia propaganda contra mim mesma. E hoje, neste momento olho para trás, em cima do armário, e vejo os presentes que comprei para ele. Contradição pouca é bobagem.


Embora tenha comprado presentes, continuo pensando isso da data. Não agüento mais ver corações nas vitrinas, escutar músicas melosas nas rádios. Dia dos Namorados é como Natal. As pessoas querem ser boas, todos são companheiros, solidários e por aí vai. Em junho tudo são flores para os casais. Depois volta tudo ao normal. Acredito que um relacionamento deve ser cultivado todos os dias, aguado sempre que acordamos, como o potinho de orégano na janela da cozinha ou o pé de roseira na sacada.


Esses dias saímos para jantar e tinha um casal na mesa atrás que, logo que cheguei, vi que não estavam muito bem. E o casal ficou me perturbando a noite toda, pois não conseguia tirar o olho deles. Ela chorava, eles discutiam, ela chorava de novo. Não sei qual a graça em namorar alguém nessas condições. O dia que eu sair de casa e ir a um lugar brigar com meu namorado, das duas uma: ou fico em casa brigando ou então repenso se devo continuar.


Aposto que eles hoje estão numa boa, felizes e sorridentes. Essa semana ela deve ter passado toda envolvida com o presente para dar a ele. Talvez até estivesse na dúvida se compraria uma calça, uma camisa ou um blusão. Ele de repente não estivesse com tanto ânimo para a compra do regalo. Mas foi às compras. Ficou balançado entre bolsas, sapatos, casacos e jóias, falsas, pois na verdade nem era dono de tantas posses a ponto de presenteá-la com jóias verdadeiras e de grifes renomadas.


Mas no final das contas devem estar bem. Esse é meu primeiro dia dos namorados namorando. Na verdade é minha primeira fase namorando também. Até onde eu conheço esta data, ela é legal. Está sendo legal, apesar do lado consumista que desperta. Saí no centro hoje e deu vontade de comprar tudo que vi pela frente. Para meu namorado? Que nada. Deu vontade de comprar tudo para mim. Essa data além de ser totalmente comercial, é um grande, como digo, “pega bobo”. As pessoas ficam muito mais tentadas a comprar coisas para si que para seus respectivos. O que mais vi foi mulheres comprando em lojas para elas e homens em lojas para eles. Se isso não é comprar para si eu não sei mais o que é. Não me habituei aos tempos modernos ainda.


Mas é assim. Capitalista. Consumista. Comercial. Todo mundo gosta. É como Natal e Ano Novo, por mais que não apreciemos muito, sempre acabamos felicitando os amigos e parentes.


(publicado em www.claudemirpereira.com.br)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

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Não Fran... não abandonei o blog.

Não reclamei.

Hoje tive uma tentativa frustrada de um bom almoço. Fomos a um restaurante um pouco afastado do centro e quando chegamos lá, nossa surpresa, estava fechado. Voltamos para o centro. Vamos então a outro restaurante, de qualidade e conceito parecidos com o primeiro. Há uma salada muito bonita com alface, rúcula e salpicada com pedaços de laranja. Muito bem, sirvo-me deste bonito prato e ao final da refeição vejo um pedaço de alguma folha verde. Olhei mais de perto tentando identificar se era alface ou rúcula. Nenhum dos dois.

Era uma grama. Sim, uma folhinha de grama. Verde e longitudinal como a maioria delas. Não comi. Aquela ali não comi. Mas posso muito bem ter comido outras no meio da salada e nem vi.

Não reclamei. Nem sei o porquê, só não reclamei...

sábado, 7 de junho de 2008

G ou J?

Li um texto do David Coimbra, colunista da Zero Hora, publicado em 30 de abril, onde ele falava que condena a gramática, não ela em si, mas a forma como é ensinada. Não sei se chego a tanto, mas concordo que aprender inglês é mais fácil que português, embora eu ainda não tenha aprendido direito a língua dos he, she e it. Mas independente de ser a favor ou não, recomendar ou crucificar, tem coisas que não dá para aturar.

Como dói no ouvido escutar um “dá pra mim fazer tal coisa?”. Ai. Isso eu sei desde o colégio, não lembro bem a série, quando eu pedia para a professora para ir ao banheiro e ela dizia que mim não vai a lugar algum e que mim não faz nada. E desde então aprendi. Mas e o “seje” e o “menas”? São outras duas palavras que ficam até feio de uma pessoa dizer.

Esses dias aconteceu um fato engraçado que diz respeito a este assunto. Estava trabalhando e perguntaram de uma pessoa. Era um homem. Respondi que o vi em tal lugar. O indivíduo que me questionou prontamente se voltou a mim e fez outra pergunta. “Ouviu o quê?”. Até eu explicar que focinho de porco não é tomada, foi mais fácil dizer que tinha visto ele em tal lugar e em tal situação.

Um lugar que sempre cuido é no mercado, no setor dos frios. Sempre vejo pessoas pedindo “quinhentas gramas” de queijo ou presunto ou qualquer que seja o item da padaria. Gramas, quando for medida, é uma palavra masculina. Se o funcionário atendesse a risca o pedido do cliente, ia ser no mínimo engraçado ele chegando com um saquinho cheio de gramas, verdes e apetitosas.

Muito já falei da maneira errada também. Aposto que muitas outras coisas falo errado. Só estou colocando estes exemplos porque são do nosso dia-a-dia. Tem duas palavras que sempre me causam dúvidas, o mal e o mau. E confesso que hoje perguntei para o Clayton se era realmente certo dizer “o vi”. Mais uma: “Outro dia vi ela passeando pelo parque”. Como? Uma rua estreita passeando pelo parque?

Voltando ao David (percebam a intimidade), que não é totalmente contra a gramática. Ele até fala que algumas regrinhas básicas são necessárias. Concordo, afinal de contas não basta saber as letras e as palavras, segundo o Miguel, tem que saber acolherar. No Fórum Mundial de Educação em Santa Maria, no Conversas com o Professor, Moacir Gadotti, ao longo de seus 45 anos como educador, falou que o total conhecimento da fala e da escrita se dá com no mínimo 9 anos de estudos. Sendo assim, ele complementa que no Brasil somente 26% da população chega a este patamar.

Embora ler e escrever pareçam coisas primordiais para a vivência de uma pessoa, há muitas outras que nos trazem aprendizado e ensinamentos. Eu aprendi muito com pessoas que mau sabiam escrever ou ler. Nada que um G trocado por J fosse fazer muita diferença.

* só mais uma confissão... não foi só hoje que pedi ajuda ao Clayton. Sempre que me aperto... recorro a ele. E para a mãe do meu namorado, que é professora de português, também.

(publicado em www.claudemirpereira.com.br)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

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