Revirando rotinas.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Cores.

Não sei se estou enfrentando problemas ao escolher minhas roupas, mas isso não é de agora. Vem de tempo. Tem um vestido que uso e as pessoas o chamam de lona de circo. Uma blusa que dizem ser um pedaço de uma toalha de mesa. Sexta saí com o meu vestido mais bonito e ouvi a seguinte frase: "Dai, tu sempre usa umas roupas meio diferentes, não é?". Adoro roupas coloridas, com estampas psicodélicas, flores, bolinhas, listras, o que for.

Hoje pela manhã acordei atrasada e coloquei a primeira roupa que vi pela frente, que foi a mesma que fui ao festival de cimena ontem à noite: um vestido roxo, preto e cinza e, como estava meio frio, coloquei o casaco também. Uma jaqueta verde. Na agência ouvi um outro comentário, que não sei se foi elogio ou crítica. "Dai, como tu tá colorida hoje".

Só respondi que estou sempre colorida. Acho que me saí bem.

Cores, muitas cores, adoro cores.

Heróis.

Esta semana fomos entrevistar um senhor e quando chegamos ao local marcado, na sala ao lado havia um velório. Era uma senhora que dizem muito sofrida. Era uma movimentação meio estranha, algumas pessoas na porta como se esperassem algo ou alguém. Logo vem se aproximando um carro com placa branca, por um momento até achei que fosse da prefeitura, mas quando chegou a uma distância que meus olhos enxergassem o que nele estava escrito, vi que era da Secretaria de Segurança do Estado.

Agentes penitenciários estavam levando o filho da senhora para o velório. Mas antes de que ele saísse do carro, desceram os agentes, armados e vestindo coletes à prova de balas. Ele desceu, algemado certamente, e foi em direção ao caixão, onde permaneceu até a benção final. Além da frieza dele, o que me chamou a atenção foi a reação das pessoas que ali já se encontravam. Todos o tratavam de uma maneira diferente, até estranha. Parecia um herói por ter vindo do presídio, era como se ele fosse mais do que todos os ali presentes. Não sei qual foi o delito ou mesmo se houve algum.

Notei uma menina que atravessou a multidão de pessoas só para tocá-lo e dar oi. Ele mal a olhou. Não sei se foi isso realmente, mas ali ele era visto como um salvador, alguém completamente díspar. Talvez um herói por ser aquele que saiu daquela realidade, mesmo que tenha ido para outra realidade meio torta. Heróis já vi aos montes, alguns da vida real e ainda os de filmes e desenhos animados, mas nenhum podia ser comparado a ele.

Qual a definição certa de herói? No dicionário consta, entre tantos significados, “o protagonista de qualquer aventura histórica ou drama real”, “homem elevado a semideus após a morte, por seus serviços relevantes à humanidade”, “personagem preeminente ou central que, por sua parte admirável em uma ação ou evento notável, é considerada um modelo de nobreza” e, ainda, “personagem masculina principal de um drama, poema ou romance”. Agora, conversando sobre o assunto, uma amiga mencionou sobre ter heróis de verdade e de mentira. Os de mentira seriam personagem de desenhos animados e o de verdade seria seu avô.

Não sei se meus personagens preferidos chegavam a ser heróis, nunca liguei muito para isso, ou pelo menos não os nominava desta maneira. Gostava da princesa Sara, do Cavalo de Fogo, do Robin Wood, roubando dos ricos para dar aos pobres e também por ele ser engraçado, e, ainda, o Papai Smurf e a Smurfete, o primeiro porque mandava e ela porque era a única menina. Mas fica interessante pensar sobre o assunto quando crescemos, porque os conceitos mudam, muito em função dos olhares e as experiências mudarem. E se mudam, que bom, pois a mudança faz parte da evolução. Me atraem as mudanças que resultam de qualquer tipo de reflexão e quando demonstra, de uma forma ou de outra, evolução.

Hoje ficaram na lembrança os desenhos animados; não que os tenha abandonado. Atualmente os heróis são outros. Talvez sejam adultos ou mesmo crianças, que enfrentam todas as formas de preconceito, que batalham dia após dia para não caírem no esquecimento do mundo e retirarem dele o que necessitam para uma vida minimamente digna. É aquele velhinho cuja imagem nunca se perdeu na minha mente, de pés rachados entrando no ônibus, ou meu pai me buscando de bicicleta no colégio e me levando para a obra onde trabalhava para esperarmos a hora de ir para casa.

De alguma forma, torta ou não, para alguns aquele jovem é herói.

(publicado em www.claudemirpereira.com.br)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Por favor, convidem os aniversariantes.

Adoro aniversários. Gosto da movimentação dos dias anteriores. Na verdade, gosto mais disso que propriamente do dia das comemorações. No meu aniversário fico contando os dias e as horas. Falo para todo mundo, faço planos que nunca saem do papel ou da minha cabeça. Neste ano, no 21 de setembro, dia da Árvore, não saí de dentro de casa, a não ser para almoçar. Os únicos dois presentes que ganhei foram dados na sexta-feira anterior, um vestido e um cinto. E isso nem é em tom de reclamação, tenho vergonha de ganhar presentes, não sei o que fazer nem o que falar.

Se não gosto do presente não sei disfarçar, prefiro não ganhar a ter atitudes falsas. Tenho várias experiências com aniversários (dos outros), que vão desde bolo de banana até... Tinha uma vizinha que morava em Caçacã, uma localidade de São Borja, e vinha fazer a festa do aniversário dela na casa da avó, a dona Zeli. A mãe dela, em um destes aniversários, fez um bolo e achou que estava abafando. Um bolo de banana. Não que seja ruim, mas para as várias crianças que lá estavam, oferecer um bolo de banana é como oferecer cebola ou camarão para mim. É pedir para receber um não bem redondo como resposta.

Também tenho algumas experiências mais recentes em comemorar aniversários de amigos sem que os mesmos estejam presentes. Uma vez fizemos uma festa para um colega, e como na Secom as festas de aniversários eram surpresas, ele não sabia. Depois de muita espera, bolo, salgadinhos e refrigerantes, veio a notícia de que ele estava viajando. Por um lado foi bom, pois o bolo, ou melhor, os bolos de R$3,90 cada eram horríveis, beirando o pão com chimia. Nada contra pão com chimia (adoro pão com chimia de abóbora), mas é pão com chimia e não bolo de aniversário. Os salgadinhos também não eram dos melhores. O padeiro era o mesmo.

A Lurdes também já nos viu algumas vezes em seu bar comemorando o aniversário de pessoas ausentes, seja porque comemorar conosco não estivesse nos seus planos ou pelo simples fato de não terem sido convidados. “Cadê o fulano?”. Eu respondo: “Ops, esqueci de avisar que iríamos comemorar o aniversário dele”. Enfim. São coisas da vida. Ontem era aniversário de uma colega de trabalho, adorei a parte de ficar pensando no que faríamos para ela. Docinhos? Salgados?

“Numa festa de aniversário, apareceu, entre números de piano e canto (ah! delícias dos saraus de outrora!), apareceu um mágico com a sua cartola, o seu lenço, bigodes retorcidos e flor na lapela. Nenhum de nós se importaria muito com a verdade: era tão engraçado ver saírem cinqüenta fitas de dentro de uma só... e o copo d'água ficar cheio de vinho...Edmundo resistiu um pouco. Depois, achou que todos estávamos ficando bobos demais. Disse: "Eu não acredito!" Foi mexer no arsenal do mágico e não pudemos ver mais as moedas entrarem por um ouvido e saírem pelo outro, nem da cartola vazia debandar um pombo voando... (Edmundo estragava tudo. Edmundo não admitia a mentira. Edmundo morreu cedo. E quem sabe, meu Deus, com que verdades?)”. Este texto foi escrito por Cecília Meireles, nascida em 7 de novembro de 1901 e falecida em 9 de novembro de 1964.

Hoje é aniversário do meu amor, que me enche de alegria todos os dias. Não tenho chapéu de mágico, não sei tirar pomba de cartola, mas vou colocar meu vestido mais bonito e a sandália nova para comemorar com ele. Fazer a entrega dos presentes que passei a semana toda envolvida, sem saber o que comprar, pensando se ele vai gostar das minhas escolhas.

* Espero que ele não esqueça e que eu já o tenha convidado...

(publicado em www.claudemipereira.com.br)

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

Parecida com uma tartaruga. Meio devagar. Mas o carnaval tá perto.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Outros bem baratinhos que comprei por aí.

O brinco do qual mais gosto foi presente de uma querida amiga. Ela foi para a Itália a trabalho e me presenteou com a jóia em forma de máscara, as famosas máscaras do carnaval de Veneza. Destes, os mais apreciados artefatos são confeccionadas em Florença e Veneza, na Itália. Eram muito utilizadas pelas damas da nobreza do século XVIII, numa clara demonstração de sedução. E elas deviam seduzir muito. Consta que os bailes de máscaras ganharam força e tradição em meados do século XVI, depois de introduzidos pelo Papa Paulo II.

Aqui no Brasil as máscaras chegaram para o carnaval, assim como as fantasias que começaram a fazer parte do figurino dos foliões, no século XIX, junto aos bailes da elite, em contraste com as festas populares nas ruas. A partir daí o carnaval foi ganhando a forma que é hoje. Apesar disso, esta grande festa da cultura do país chegou a solo brasileiro com as primeiras caravelas portuguesas, ainda na época da colonização.

Máscara vem do árabe maskhara, com o significado de zombaria. Substantivo feminino, artefato que representa uma cara ou parte dela e que se coloca no rosto para disfarçar a pessoa que o põe, entre outros significados. Também definida com o sentido conotativo de disfarce, dissimulação ou falsa aparência. Ela não é específica somente para o carnaval, em nosso dia-a-dia vemos as máscaras por aí, nas suas mais diversas formas. Na televisão os super-heróis que as crianças idolatram usam máscaras para esconderem sua verdadeira identidade ou tornarem-se pessoas que não são. Seria usada como motivadora ou transformadora?

Nos centros de estética as mulheres se valem de máscaras de beleza para obterem resultados positivos. Máscara de pepino, máscara de abacate ou da fruta que for. Se traz os efeitos desejáveis, ótimo. Seria um empurrãozinho na autoconfiança? Artistas também usam máscaras quando interpretam seus papéis. É a busca por aplausos e aprovação?

Qualquer indivíduo é dotado de personalidade, que não deixa de ser uma máscara para enfrentar as relações interpessoais diárias pelas quais temos que passar. Ninguém consegue viver sozinho, e para isso, as máscaras/personalidades têm de ser postas para fora e sob a aceitação alheia.

A primeira máscara que se tem notícias é do período paleolítico, de 3.000 a 10.000 antes de Cristo. Foi descoberta em 1914, gravada nas paredes de uma caverna em Ariegè, nos Pirineus, entre França e Espanha. Mesmo sendo tão antigo o primeiro registro, sem a certeza do real motivo para sua confecção e usos, as máscaras continuam por aí, e não é necessário que elas se materializem. Ela está em palavras, gestos, caras e bocas, frases, e disso temos tantos exemplos. Caras escondidas, frases veladas, nomes distorcidos e pessoas que não conhecemos.

Todos usamos máscaras, resta saber o real motivo para tanto, se para esconder, brincar ou apenas transferir o que realmente somos para aquilo que desejamos e não faz parte da realidade. Não sei se o presente da Jeanne teve alguma conotação, mas continua sendo o que mais gosto. Depois vem o de coração em madrepérola, também presente, o outro de coração na cor cobre e outros bem baratinhos, de coração também, que comprei por aí.

(publicado em www.claudemirpereira.com.br)