Revirando rotinas.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.

Entendo. Envelheci entendendo.
Bicho não tem alma, eu sei bem,
mas será que vivente tem?

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Era uma guaipeca amarelo,
baixinho, de perna torta,
que me seguiu num domingo,
de volta de umas carreira.

Eu andava meio abichornado,
bebendo mais que o costume,
essas coisa de rabicho, de ciúme,
vocês me entendem, ele entendeu.

Passei o dia bebendo
e ele ali no costado
me olhando de atravessado,
esperando por comida.

Nesse tempo era magrinho
que aparecia as costela.
Depois pegou mais estado
mas nunca foi de engordá.

Quando veio meu guisado,
dei quase tudo prá ele.
Um pouco, por pena dele,
e outro, que nesse dia,
só bebida eu engolia
por causa dos pensamento.

Já pela entrada do sol,
ainda pensando na moça
e nas miséria da vida,
toquei de volta prás casa
e vi que o cusco magrinho
vinha troteando pertinho,
com um jeito encabulado.

Volta prá casa, guaipeca!
Ralhei e ralhei com ele.
Parava um puco, fugia,
farejava qualquer coisa,
depois voltava prá mim.
O capataz não gostou,
na estância só tinha galgo,
mas o guaipeca ficou.

Botei o nome de sorro,
as crianças, de brinquinho,
mas o nome que pegou
foi de guaipeca amarelo.

Mas nome não é o que importa.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?

Ficou seis anos na estância.
Lidava com gado e ovelha
sempre atento e voluntário.
Se um boi ganhava no mato,
o guaipeca só voltava
depois de tirá prá fora.

E nunca mordeu ninguém!
Nem as índia da cozinha
que inticava com ele.
Nem ovelha, nem galinha,
nem quero-quero, avestruz.
Com lagarto, era o primeiro
e mesmo piquininho
corria mais do que um pardo.

E tudo ia tão bem...
Até que um dia azarado
o patrãozinho noivou
e trouxe a noiva prá estância.
Era no mês de janeiro,
os patrão tava na praia,
e veio um mundo de gente,
tudo em roupa diferente,
até colar, home usava,
e as moça meio pelada,
sem sê na hora do banho,
imagino lá no arroio,
o retoço da moçada.

Mas bueno, sou doutro tempo,
das trança e saia rodada,
até aí não tem nada,
que a gente respeita os branco,
olha e finge que não vê.
O pior foi o meu cusco,
que não entendeu, por bicho,
a distância que separa
um guaipeca de peão
da cachorrinha mimosa
da noiva do meu patrão.

Era quase de brinquedo
a cachorrinha da moça.
Baixinha, reboladera,
pêlo comprido e tratado,
andava só na coleira
e tinha medo de tudo,
por qualquer coisa acoava.

Meu cusco perdeu o entono
quando viu a cachorrinha.
E les juro que a bichinha
também gostou do meu baio.
Mas namoro, só de longe
que a cusca era mais cuidada
que touro de exposição.

Mas numa noite de lua,
foi mais forte a natureza.
A cadela tava alçada
e o guaipeca atrás dela
entrou por uma janela
e foi uma gritaria
quando encontraram os dois.

Achei graça na aventura,
até que chegou o mocito,
o filho do meu patrão,
e disse prá o Vitalício
que tinha fama de ruim:
Benefecia o guaipeca
prá que respeite as família!
Parecia até uma filha
que o cusco tinha abusado.

Perdão, le disse, o coitado
não entende dessas coisa.
Deixe qu'eu leve prá o posto
do fundo, com meu cumpadre,
depois que passá o verão.
Capa o cusco, Vitalício!
E tu, pega os teus pertence
e vai buscá teu cavalo.

Me deu uma raiva por dentro
de sê assim despachado
por um piazito mijado
e ainda usando colar.
Mas prometi aqui prá dentro:
mesmo filho do patrão,
no meu cusco ninguém toca.
Pego ele, vou m'embora
e acabou-se a função.

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?

Campiei ele no galpão,
nos brete, pelas mangueira
e nada do desgraçado.

No fim, já meio cansado,
peguei o ruano velho
e fui buscá o meu cavalo.
Com o tordilho por diante,
vinha pensando na vida.
Posso entrá numa comparsa,
mesmo no fim das esquila.
Depois ajeito os apero
e busco colocação,
nem que seja de caseiro,
se não me ajustam de peão.
E levo o cusco comigo
pois foi o único amigo
que nunca negou a mão.

Nisso, ouvi a gritaria
e os ganido do meu cusco
que era um grito de susto,
de medo, um grito de horror.
Toquei a espora no ruano
mas era tarde demais.
Tinham feito a judiaria
e o pobrezinho sangrava,
sangrava de fazê poça
e já chorava fraquinho.

Peguei o cusco no colo
e apertei o coração.
O sangue tava fugindo,
não tinha mais esperança.
O cusco foi se finando
e os meus olho chorando,
chorando como criança.

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?
Nessa hora desgraçada
o tal mocito voltou
prá sabê pelo serviço.
Botei o cusco no chão,
passei a mão no facão
e dei uns grito com ele,
com ele e com o Vitalício!

Ele puxô do revólver
mas tava perto demais.
Antes que a bala saísse,
cortei ele prá matá.
Foi assim, bem direitinho.
Não tô aqui prá menti.
É verdade qu'eu fugimas depois me apresentei.
Me julgaram e condenaram
mas o pior que assassino,
foi dizerem que o motivo
era pouco prá o que fiz...

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?

Dia da saudade.

Hoje, 30 de janeiro, é dia da saudade. Tenho saudade de tanta coisa.
Saudade do meu namorado todos os dias comigo. Da Fran falando bobagens diariamente, nem que fosse pelo msn. Saudade de ir com ela no Ponto mais de uma vez por semana. Mas enfim... Saudade da Mariana querendo comer cachorrinho toda semana, do Mikel enchendo o saco, vindo com suas teorias e dizendo que não quer saber de conversas de meninas e que tem coisas que ele não precisa e não quer saber.

Saudade do carreteiro e do feijão da minha mãe no sábado ao meio-dia. Do carro da Secom que nos proporcionou milhões de momentos de risos incontroláveis. Saudade de quando morava em Bagé na pensão da velha do cifrão no olho e até de lavar roupa escondido na máquina de lavar dela. Saudade de ir lá na Aline de tarde quando não tinha o que fazer. Saudade da Jeanne e do Gerri me dando pautas de relações internacionais e convidando pra uma cerveja.

Da Jaiana e da Fabi dando risada com nossas histórias engraçadas. Do Feijão querido, que se foi aos 17 anos. Quando fui a São Borja até quis colocar uma cruz onde ele foi enterrado, mas não me deixaram... ehehehhehe. Dos amigos queridos de Bagé. A Deise, Fernanda, a Biazinha, o Diego, o Gringo e tantos outros.

Saudade de tanta coisa. Das músicas que eu cantava há tempos e que ainda estão entre as minhas favoritas. Do Gil e do Zé. De semana farroupilha em São Borja. Acho que tenho saudade até da Feira da Economia Solidária. Era uma confusão mas eu gostava.

sábado, 17 de janeiro de 2009

eu não sei.

Maiquel acabou de perguntar quais meus planos para o futuro.
Não sei quais são.

"esqueça o roteiro, não pergunte que horas são... eu não sei"

o resto é mar.

Hoje faz dois anos que me formei, me tornei bacharel em Comunicação Social, habilitação Jornalismo. Também faz um ano que estou na Tríade, agora Inox.

365 dias vezes dois nem parece muito tempo, mas são 730 dias, considerando 2008 que foi ano bissexto, temos somado 731. E foi tanta coisa que aconteceu neste tempo. Tanta coisa boa e algumas ruins, mas que não apagaria de maneira nenhuma do meu livro. Talvez tenham sido estas que fizeram e ainda estão me fazendo crescer.

Profissionalmente estou mais esperta, mais segura, embora viva naquele constante estágio do aprendizado. Pessoalmente continuo feliz, mas uma felicidade diferente, com outros motivos. Não sei como funciona a medição do grau de felicidade, mas a minha foi somando algumas coisas.

"o resto é mar, é tudo que eu não sei contar..."

Desejar já é se importar.

Este final de semana fui a Porto Alegre. Havia me inscrito em um concurso cujas provas eram domingo. No sábado, na chegada à cidade, fomos ao shopping. Muito movimento de carros, muitas lojas, algumas boas promoções e muita, mas muita gente. Pessoas de todos os tipos com os mais diversos comportamentos. Sou das que não perdem um detalhe, vi cenas interessantes durante a tarde no shopping.

Vi uma senhora cadeirante que estava tendo um ataque de choro no meio do local, no segundo pavimento. Ela estava com seu marido (não sei se de fato era marido, de papel passado, mas vivendo junto já considero como tal), ele tentava consolá-la, mas ela gritava e chorava. Por um minuto ela parou, olhou para o lado e pareceu se perguntar o que estava fazendo, ou mesmo o que fazia ali e o porquê.

Passando por uma loja de bolsas, uma família vinha: mãe, pai e filho. A mãe olhou na direção das bolsas, fitou o marido, fez um sinal com os olhos e um som com a boca, como se pedisse para comprar um daqueles artigos. O pai/marido despistou-a de forma sensacional. “O quê? Não ouvi. Bah, olha ali que loja legal, estou precisando de tal coisa”, apontando para o lado oposto às bolsas.

Entre tantas pessoas, inúmeras ações e comportamentos normais ou convencionados como normais e os ditos anormais ou estranhos, me pergunto se houve alguém que tivesse me observado. Mais que isso, me questiono se alguém me observou e analisou minhas atitudes e reações.

Vi pessoas em lojas atrás de promoções e reclamando do alto preço de alguns artigos. Teria alguém me visto entrando nas maiores lojas, olhando meio por cima, buscando algo que me enchesse os olhos? Fui ao banheiro, me perdi lá dentro, fiquei em dúvida se levava este ou aquele produto. Será que alguém, além do vendedor, notou isso? Mais que ver e sentir as coisas, o que vale é a capacidade que temos de nos importar. Diariamente vemos milhões de coisas, pessoas indo e vindo, fazendo o mesmo ou coisas diferentes de nós. Mas o que interessa é o quanto nos importamos.

Não presenciei a sequência daquela senhora na cadeira de rodas, tampouco da adoradora de bolsas. Mas a primeira deve ter recebido o carinho do marido e sua preocupação em saber o que acontecia. A segunda foi carinhosamente conduzida pelo seu amante (pessoas que se amam são amantes) até a referida loja, adquiriu a bolsa mais bonita e de maior preço, sem nem pestanejar. Assim, desejo e desejar já é se importar.

E quanto a mim? Quando fui procurar meu casaco no balcão de informações, lá estava ele. Alguém pode ter me visto e, mais que isso, se importou com a perda do acessório, talvez até sem nem saber quem era a dona dele.

(publicado originalmente no www.claudemirpereira.com.br)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Iguaria: nova alternativa de restaurante em Santa Maria.

Na segunda quinzena de janeiro inaugura mais uma opção de restaurante na cidade. O Iguaria será um espaço diferenciado, com decoração artesanal, cardápio reunindo diversas cozinhas, além da união do restaurante com a loja Garimpo Brasil. Idealizado por Vinícius Torres, o Chef Diego Braga e Fernando Correa, este será um espaço moderno, uma proposta que não deixa de lado o que o santa-mariense aprecia e os gostos do povo gaúcho, mas também trará a culinária japonesa, uruguaia, italiana e de outros estados do Brasil.

“Estaremos sempre buscando coisas novas. Teremos vários tipos de bebidas, desde a cerveja, espumantes e uma carta de vinhos. Nosso cardápio será trocado pelo menos quatro vezes ao ano, atendendo às tendências das estações, incluindo carnes, grelhados, risotos, entre outras especialidades”, comentou Vinícius. O Iguaria funcionará na Avenida Medianeira, em local totalmente adaptado para oferecer conforto e um ambiente agradável aos apreciadores de uma boa comida e bebida.

Com um deck com espaço para 65 lugares, além da área interna com capacidade para outras 35 pessoas, este promete ser um local distinto, decorado com um exclusivo projeto paisagístico e peças artesanais da Garimpo Brasil, vindas de diferentes locais do país. “Nossa idéia é trazer um pouco de cada coisa, de cada lugar, e reunir tudo em um mesmo local. Trabalhamos com artigos de todo o país, artesanato do interior do Rio Grande do Sul, assim como do interior da Bahia ou Minas Gerais”, salientou Fernando, que além de sócio do Iguaria é proprietário da Garimpo junto a Fernanda Silveira.

A partir da inauguração do Iguaria, a Garimpo Brasil passará para o novo endereço, ao lado do restaurante, também na Medianeira. Todos os artigos do restaurante poderão ser obtidos na loja. “Esta interação entre os dois lugares acho que vai ser bem legal, porque quem vier aqui no Iguaria jantar e gostar do enfeite de mesa, por exemplo, vai poder adquirir na loja que vai estar exatamente aqui ao lado”, destaca Fernando.

Estarão dando um sabor ímpar aos pratos os chefs Diego Braga, também proprietário do Iguaria, e Kenji Itakura, especializado na comida japonesa. Serão pratos como Salada de Haddock e Carpaccio com Manga e Limão, Salada Caprese, Salada Caesar, Risoto de Açafrão, Entrecot Grelhado com Espeto de Vegetais e Queijo Coalho, Molho de Vinho do Porto com Risoto de Rúcula, entre outros petiscos, saladas, filés, massas, sobremesas e a tradicional A La Minuta.

A data da abertura do Iguaria ainda não está definida, devendo ser divulgada nos próximos dias. O restaurante estará localizado na Avenida Medianeira, nº 110, próximo à rótula da Expresso Mercúrio. O telefone para contato é o 3028.4334.